11.26.2002

[ Minhas Mulheres e Meus Homens, p. 233 - Mario Prata ]

TOQUINHO, compositor (São Paulo, 1971)

   Estamos nós dois no elevador do prédio dele, nos Jardins. Nós dois e um garotinho que acaba de entrar. Uns cinco anos. Mal alcançava o número 6. Apertou. Apertamos o 5.
   Ele mosta a língua para o garoto
   O garoto mostra a língua para ele.
   Ele mostra a língua para o garoto
   O garoto mostra a língua para ele.
   Estamos chegando no quinto. A última língua foi do garoto. Mas o Toquinho não admite perder. Nada e nunca. Na hora que saímos e a porta está quase fechada, na frestinha que sobra, ele mostra a língua, vitorioso e bate a porta.
   Mas, lá dentro, o garoto fica na ponta do pé, e pela janelinha, numa frança de segundo, mostra a língua.
   O Toquinho fica puto e sai correndo pela escada a toda. Chega no sexto andar junto com o elevador que se abre, mostra a língua para o garoto e volta correndo.
   - Ganhei, diz, ofegante e suado.